Primeiramente, a fotografia é encarada como técnica, sob o ponto de vista da utilidade, e os manuais traziam o modo de uso para se fotografar. No ano de 1851, em Londres, teve lugar a primeira Exposição Universal na qual foram expostos diversos produtos industriais e máquinas.
Nela aconteceu, pela primeira vez, uma mostra internacional de fotografia, com a presença de fotógrafos londrinos, parisienses e nova-iorquinos, fato que representou, de maneira oficial, o reconhecimento público da fotografia, concretizando a existência de um movimento fotográfico na Europa e nos Estados Unidos. Esse fato, contudo, não revelou nem provocou uma uniformidade no que se refere aos processos fotográficos utilizados nem quanto à organização dos fotógrafos. Com relação aos processos fotográficos, havia uma variedade de técnicas nos países participantes da Exposição. Nos EUA, prevalecia o daguerreótipo; na França fazia-se uso dos calótipos[1] e na Inglaterra prevalecia a fotografia realizada com negativos de vidro.
Por esta época a organização do grupo de fotógrafos ainda não era nítida, pois havia somente três revistas sobre o assunto: The Daguerreion Journal (1850) e The Photographic Art Journal (1851) em Nova York e La Lumière (1851) em Paris, mas as primeiras associações foram surgindo no decorrer da década de 1850, como a Photographic Society of London (1853) e a Société Française de Photographie (1855).
Sabe-se, segundo Melo, que a Exposição Universal londrina (1851) favoreceu o campo do conhecimento, das pesquisas e as produções fotográficas no sentido de divulgar as inovações ensejando o intercâmbio na área técnica e artística, o que contribuiu para o debate em torno da fotografia, já que surgiram os primeiros resultados das pesquisas implementadas para multiplicar as provas fotográficas e diminuir o tempo de exposição no momento da tomada. (1998:21)
Como vimos, vários fatores motivaram a busca por novos materiais e processos fotográficos mais rápidos já que com o desenvolvimento industrial uma nova classe econômica - a burguesia - estava se firmando no mercado, sedenta por novidades e o lucro fácil com a mecanização dava o tom do novo ritmo econômico em ascensão. Nesse contexto encontramos uma acirrada disputa por lucro e progresso e o inicio da discussão sobre o papel artístico ou não da fotografia. Se vista como arte ou simples técnica será tema de debates e as opiniões divergem conduzindo a lados opostos: de um lado os que reconhecem a fotografia como arte e de outro, aqueles que a consideram uma mera técnica, e essa dicotomia opinativa levou à formação de dois grupos distintos, com a finalidade de garantir o mercado consumidor tanto na área artística como na difusão do trabalho técnico fotográfico.
A polêmica atravessa a sociedade e é incentivada pela imprensa divulgando a criação da Société Française de Photographie (SFP) e a Exposição Universal de Paris que defendiam a fotografia como um campo da arte, em 1855. A Société Française de Photographie foi criada para divulgar as realizações, pesquisas e discussões sobre a fotografia, reforçando sua natureza artística frente a seus opositores. Era mantida por sócios e recebia contribuições de personalidades simpatizantes à causa, além de incentivar o patrocínio das indústrias de equipamentos ligados à fotografia, nas realizações em que o exercício fotográfico se desenvolvia em busca de uma linguagem artística própria.
Por outro lado, o outro grupo que vislumbrava a fotografia no campo técnico fundou a revista La Lumière, dirigida por Ernest Lacan, focaliza os interesses econômicos dos fotógrafos, a venda de suas obras (a fotografia), ou seja, a especulação privada, classificando as afirmativas da SFP como “simples clube de discussões”.
Torna-se importante notar que a posição da Société Française de Photographie é ambivalente visto que organiza uma exposição fotográfica, simultaneamente à Exposição Universal de Londres, e cria um concurso, em 1856, com fins comerciais, trazendo à fotografia o status de Arte e dinamiza a divulgação como tal, ao mesmo tempo em que vincula em seu espaço de atuação a técnica e a indústria, uma vez que nela se apóia para se firmar no mercado.
[1] Processo patenteado em 1841 por William Henry Fox Talbot pelo qual se utilizavam negativos sobre papel.
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