domingo, 27 de janeiro de 2008

A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E A REALIDADE EDUCATIVA


Por: Brigitte Luiza Guminiak

A cada dia percebe-se a crescente necessidade de se pensar uma política pública que vise cuidar dos nossos bens culturais, confirmando as tradições e a preservação dos aspectos físicos e ambientais de forma que dêem suporte à existência de um processo de preservação das práticas culturais e instrumentos de identificação no sentido de valorizar a permanência das mesmas na sociedade local.



Assim, a Educação Patrimonial tem se revelado cada vez mais do maior interesse teórico e prático e a preservação de bens naturais e culturais se justifica para garantir certos direitos universais do ser humano, como: direito às condições materiais e espirituais de sobrevivência, à qualidade de vida, à memória, ao exercício da livre criação e o uso e fruto de bens culturais.



No campo educacional, um adágio popular antigo diz que EDUCAÇÃO VEM DO BERÇO. Nada mais verdadeiro.

É no aconchego do colo familiar que as bases da educação são lançadas, como o respeito pelo outro e suas diferenças, a solidariedade, a valorização da vida presente, passada e futura, enfim os valores morais, religiosos e artísticos que norteiam o desenvolvimento do ser humano de forma completa e integral.



A comunidade escolar tem um papel complementar e seqüencial àquela recebida no lar. Sendo assim, a Educação Patrimonial preconizada na LDB e nos PCNs devem ser somente “adubos à semente já lançada” no seio familiar.



A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), no seu art. 26 enfatiza que a parte diversificada dos currículos do ensino básico deve observar as características regionais e locais da cultura dessa sociedade, o que abre espaço para a construção de uma proposta de ensino voltada para a divulgação do acervo cultural dos estados e municípios.



Já os Programas Curriculares Nacionais (PCNs) inovaram, pois introduziram a interdisciplinaridade na educação básica mediante a introdução dos chamados Temas Transversais, que deverão perpassar todas as disciplinas escolares. Pelo menos dois desses temas possibilitam o estudo do Patrimônio Histórico, por conseqüência, desenvolver projetos de Educação Patrimonial: o meio ambiente e a pluralidade cultural.



Nota-se que já foram criados espaços normativos (a LDB e os PCNs) para que a escola vivencie experiências capazes de despertar nos alunos o interesse pelo conhecimento e pela preservação de nossos bens culturais.



No entanto, é preciso que as secretarias de educação estaduais e municipais, em parceria com os órgãos de preservação (agencias de cultura, turismo, IPHAN) realizem cursos e atividades pedagógicas que instrumentalizem o professor com metodologia voltada à Educação Patrimonial.
Só assim serão oferecidas condições efetivas para que a comunidade escolar se constitua numa opção de espaço privilegiado para o exercício da cidadania de crianças, adolescentes e jovens mediante o conhecimento e a valorização dos bens culturais que compõem o diversificado e rico Patrimônio Histórico Nacional, começando pelo Patrimônio mais importante para a formação da nossa identidade, a LÍNGUA, pois é com ela que transmitimos as lendas, as músicas, o folclore, os sentimentos nacionais e de amor à Pátria.



Podemos dizer que a Educação Patrimonial deve ter como um dos pilares a preservação, a valorização e o fortalecimento da Língua Portuguesa, nesta acepção, importa aqui, defender também, a trilogia índio, negro e branco, pois foram eles que constituíram o povo brasileiro, enriquecendo a língua que tornou-se comum aos três com a interação de suas culturas.



A nossa Língua Portuguesa (a falada no Brasil) sendo a mistura de relações políticas, culturais, comerciais com outros países, deve ser preservada e respeitada por todos os falantes nacionais como o Patrimônio Cultural que unifica, caracterizando a identidade do povo brasileiro, constituindo-se um elo que liga o passado ao futuro do nosso povo.



Ressalta-se que nós somos o que falamos. Falando, revelamos não só o que “pensamos”, mas também quem somos: nível cultural, posição social, o comportamento diante de situações etc. Enfim, passamos ao outro o nosso modo de ser e ver o mundo pela língua que falamos.



A preservação do acervo literário inicia-se com a divulgação do mesmo, no sentido de fazer-se conhecer quem são os nossos pensadores e literatos, sua importância histórica e o seu legado para com a cultura e formação da unidade nacional. Pois ninguém valoriza o que não conhece.



O professor de Língua Portuguesa e Literatura é importante divulgador do processo sistemático de uma educação patrimonial, por ser fonte primária da Cultura popular e capaz de enriquecer o indivíduo e o coletivo, tornando-se um poderoso instrumento de reencontro do povo com suas origens através das artes literárias. Seu envolvimento no processo de fortalecimento da Cultura, é primordial, diria mesmo, fundamental para a construção de uma postura consciente e ativa no desenvolvimento da cidadania e da Cultura.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1- REVISTA DO PATRIMONIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL– CIDADANIA - Brasília. IPHAN, nº. 24, 1996.

SITES:
1- ORIÁ, Ricardo. Educação Patrimonial - conhecer para preservar.
Disponível em
http://www.educacional.com.br/articulistas/articulista0003.asp acessado em 13/12/2007.
2 – QUEIROZ, Moema Nascimento. A Educação Patrimonial como Instrumento de Cidadania.
Disponível em
http://www.revistamuseu.com.br/artigos/art_.asp?id=3562
Acessado em 13/12/2007.
3 – COORDENADORIA DO PATRIMONIO CULTURAL DO GOVERNO DO PARANÁ – Educação e Preservação do Patrimônio Cultural. Disponível em
http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=255
Acessado em 13/12/2007.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

NA RELIGIÃO DA ARTE QUAL A DIFERENÇA ENTRE O ARTESÃO E O ARTISTA?





Renoir- Paisagens -Wargemont









Por: Brigitte Luiza Guminiak


Na Idade Média a Igreja utilizou-se da Arte com a finalidade de sacralizar e divinizar o mundo, com a intenção de aproximar o divino à criatura e fazendo crer de se tratar de algo imanente do HUMANO. A dimensão religiosa das artes deu aos objetos artísticos ou às obras de arte uma qualidade de transcendência, chamada por Walter Benjamim de “AURA”, sendo ela uma absoluta singularidade do SER, portanto, IRREPETÍVEL. A obra de arte possuída por uma AURA torna distante o que está perto, porque vai além da realidade, dando-lhe a qualidade da transcendência.


Assim, a origem religiosa transmitida às obras de arte deu-lhe uma qualidade transcendente mesmo quando se distanciaram da religião e se tornaram autônomas.


O artista se faz na transcendência, e com criatividade, em totalidade com o SER. A criatividade aliada à fantasia e à inspiração apreende a intimidade subjetiva do artista, desaguando na execução da obra. Um desaguar de singularidade, que em um segundo momento criativo não se repete. O artista vive dentro de si o assunto ou a obra. Um está contido no outro. Não há como repetir o sentimento, as angústia, as alegrias daquele momento único e inefável, o momento da criação.


O artista não imita a Natureza, antes, liberta-se dela, pois cria uma realidade humana e espiritual, por meio da criatividade, e assim ele se aproxima do Criador.


O sentido novo da obra de arte é expresso pelo artista e a institui como parte da cultura, pois sendo um ser social reflete sobre a sociedade, voltando-se para ela, seja para criticá-la, afirmá-la ou superá-la.


Verifica-se então que o artesão difere do artista, pois aquele concebe à arte um caráter imediatista e mimético visto não extrapolar o pensamento de si, separando o interior do exterior, numa visão do “eu” separado da arte, e inconscientemente, questiona esse fato, vez que, para ele a obra é mera “thécne” , sem poiesis, simples imitação da Natureza, logo, desprovida de transcendência, já que domina a “thécne” destituída da “poiesis”, da transcendência, da aura singular que reveste o momento criativo.


A “thécne” do artesão pode se constituir num “perigo supremo”, segundo Heidegger, haja vista propiciar o ocultamento do SER, levando a que o homem não encontre a sua face na obra, a sua essência, mas apenas o desvelamento da “thécne”. Esse perigo pode ser evitado se se unir “thécne” e “poiesis”.


O que caracteriza a obra de arte e a diferencia de uma produção artesã é a capacidade de fazer aparecer a verdade e não unicamente uma imitação da natureza, visto que o artista revela por meio da obra de arte aquilo que o mundo tem de primordial.


O artista se vale do material para revelar a verdade já contida no material, para o artesão, esse processo não ocorre, pelo fato do imanente não se encontrar com o transcendente, a thécne não se une à poiesis, o pro-duzir se materializa no mundo exterior, sem envolvimento do mundo interior, de forma prática e desmistificada. Para o artesão não há o SOFRER, O VIVER a obra, somente o FAZER.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- MELO, Marcelino Peixoto. Tópicos em Artes Plásticas: Leituras e Releituras da Obra de Arte. UFMG, 2003.

2- PRATES, Eufrásio. Passeio Relâmpago pelas Idéias Estéticas do Ocidente.
Disponível em
http://www.geocities.com/Eureka/8979/estetica.htm

3- SERRA, Paulo. O Designe na era da Informação. Universidade de Beira Interior.
Disponível em
http://bocc.ubi.pt/pag/serra-paulo-design-era-informacao.pdf

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A Filosofia Tomista_Aristotélica e a Importância da Luz na Arquitetura das Catedrais Medievais- Parte III


AS CATEDRAIS E A IMPORTÂNCIA DA LUZ NA ARTE MEDIEVAL


A arte medieval tem o seu foco no religioso, fundamentado na Criação e no Cristianismo. Foi financiada, na maioria das vezes pela Igreja.

O pensamento medieval é arquitetônico, vez que construir é produzir, gerar espaços e lugares que propiciem um patamar e uma circunstância que una a terra ao céu, o Homem ao Divino, formando unidade. Habitar a construção é guardar o divino e resguardar o Homem.

Para o medieval, a arquitetura é a produção do espaço propício que conduz o Homem à sua fonte criadora, à origem e o guarda para que a plenitude da obra se consuma.

As igrejas constituíram a mais eloqüente manifestação da arquitetura medieval. Dois grandes estilos arquitetônicos foram consagrados: o românico e o gótico.

A arquitetura românica teve seu apogeu no Século XI, aparecendo os mosteiros, castelos e igrejas. Refletia o mundo feudal teocêntrico: o castelo representava a segurança terrena (o feudo) e a catedral (fortaleza de Deus), a segurança espiritual, ou seja, enfatizava-se ao mesmo tempo o poderio da nobreza e da igreja.

A catedral românica é maciça, pesada, de linhas simples. Seu interior é sombrio, criando uma atmosfera de segurança e tranqüilidade, propícia à submissão e à devoção.

A catedral gótica, banhada de luz e cor, decorada com pinturas e esculturas, significava mais do que um templo para o homem medieval: era sua escola, sua biblioteca, sua galeria de arte, o ponto de encontro do homem com o divino. Era a casa do povo, o próprio coração da cidade.

A arquitetura da catedral gótica é pensada para a inclusão de todos, a universalidade, compreensão total do universo, completo, o que abarca tudo e isso culmina no céu, a abóbada. O homem medieval vê a vida vinda do alto, o que providencia a conexão com a luz divina. Millet em Luz Revelando Arquitetura considera que o “céu providencia a conexão com a luz divina [...] até mesmo antes de qualquer valor religioso ter sido atribuído ao Céu, ele revela a sua transcendência. O céu simboliza transcendência, poder e o simples desafio de existir. Ele existe porque é alto, infinito, imóvel, poderoso”.

Um elemento importante na arquitetura das catedrais góticas é a luz, usada para ligar os aspectos espirituais da vida às forças divinas. Esse aspecto sagrado está relacionado à experiência das conexões cósmicas, por exemplo, o aspecto sagrado da mudança temporal expressa em locais especiais como as catedrais e basílicas. Lugares que oferecem conforto, silêncio, introspecção em contraste com as condições exteriores.

A luz revela a edificação, suas intenções, seus espaços, suas formas e seus significados. Luz revela a arquitetura e, no melhor dos casos, arquitetura revela a luz.

A catedral gótica, como imagem do mundo, no contexto medieval, representa nitidamente dois mundos: o de fora, onde a história da salvação é vivenciada, e o de dentro, onde tudo é espaço, descanso, paz, grandiosidade, pura luz que vem do alto.

Nas igrejas católicas medievais, a cosmologia levou a um sistema de símbolos diferentes, na qual a luz do dia e a luz das velas revelam a representação da posse de Deus.

A interação entre a luz divina e a luz terrena ocorre dentro das catedrais para que todos possam ver e experimentar.

Ruskin descreveu o templo medieval como sendo “em toda parte um tipo da igreja invisível de Deus”.

No interior das catedrais góticas o homem recebe uma impressão religiosa de qualquer tipo, é tocado pela majestade das imagens dos apóstolos e de Deus que os envia e olha para baixo. A luz nas catedrais góticas medievais é divina, cintilante, brilhante, pura, parece ser a luz do paraíso.
Para os Séculos XII e XIII, as catedrais foram a fonte e a essência de toda beleza visual. Para o pensador medieval a beleza não era um valor independente dos outros, mas a radiação da verdade, o esplendor da perfeição de Deus, e da qualidade das coisas que refletem sua origem no Criador.

Durante o mesmo período em que foi construída a catedral de São Marco, a luz divina também se revelou na Catedral de Notre Dame (1194 -1120) na França, através dos vitrais manchados das janelas. A luz do dia era transformada ao traspassar os vitrais coloridos, tornando–se, para devotos medievais, a própria luz divina, pois todo o interior é inundado pela luz colorida. Todos aqueles que adentrarem na catedral podem se banhar nesta luz divina.

Dessa maneira o sagrado, nas catedrais medievais, é expresso pelo tamanho da construção, pela qualidade da luz e pelas imagens.

A luz pode nos levar além do finito, do tempo e do espaço que conhecemos como mortais, no instante em que somos movidos a imaginar sobre o universo e refletir sobre o nosso papel dentro desse contexto. Um pequeno feixe de luz pode nos encorajar a assumir a missão a nós reservada pelo Criador.

Nossas vidas estão intimamente ligadas à luz. Nós literalmente não podemos viver sem ela. É uma das forças básicas e imutáveis da natureza, gera e anima a vida na terra. O sol, fonte de luz e calor, sustenta a vida vegetal, proporcionando, portanto, alimento para a vida animal, inclusive o homem. No período medieval as luzes das estrelas e da lua definiam a noite – partes de algo maior do qual nós somos uma minúscula parte. Os mistérios eram abertos para os assombramentos e mitos carregavam suas mensagens. Ao anoitecer, a luz era rara, e a noite era coberta de mistério.

A Luz tem claramente a capacidade de modificar a matéria. Se ela pode mudar a matéria física de nossos corpos, então por que não também nossos pensamentos e sentimentos? E a arquitetura gótica depende da luz. Como a luz revela as formas arquitetônicas e os espaços produzidos por ela, ela simultaneamente revela o significado e as intenções que são liberadas através do processo de concepção, projeto e construção. Estes significados são tanto particulares como universais.

A linguagem natural da luz e da escuridão é uma poderosa unidade com a qual se expressa significado na arquitetura. Luz, na revelação da arquitetura, simultaneamente revela o significado no edifício, sendo este sublime ou banal.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- Revista Scientific American Brasil – Gênios das Ciências – Aristóteles- Nº. 10

2 – VICENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo, Scipione, ed.9. 2002.

3 - ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela N.; FADEL, Tatiana. Português, Língua e Literatura. São Paulo: Moderna, 1.ed., v.único.2000.

4 - PIEPER, Josef. Luz Inabarcável – o elemento negativo na Filosofia de Tomás de Aquino. Disponível em http://www.hottopos.com/convenit/jp1.htm

5 – MILLET, Marieta S. Luz Revelando Arquitetura. Disponível em:
http://www.arq.ufsc.br/labcon/arq5656/livro/menu.htm

Filosofia Tomista-Aristotélica e a Importância da Luz na Arquitetura das Catedrais Medievais- Parte II


ARISTÓTELES E TOMÁS DE AQUINO NO PENSAMENTO MEDIEVAL

A Europa só conheceu a importância da filosofia de Aristóteles a partir do século V e VI quando apareceram as primeiras bibliotecas e a nobreza passou a ler em grego. Com o surgimento das universidades, que quebraram o monopólio educacional da Igreja, a filosofia aristotélica foi traduzida do grego para o latim e do árabe para o latim.

“Os pensadores europeus do século XIII, cujo modelo era Tomás de Aquino, encontraram nos textos de Aristóteles não somente o vigor de um pensamento filosófico desconhecido até então, mas, sobretudo, o corpo de uma obra científica que eles consideraram a realização da ciência da época antiga. [...] Apesar de ter sido visto com suspeita pelas autoridades eclesiásticas, esse “Aristóteles dominicano” dominou rapidamente toda a vida intelectual européia, transformando-se no obstáculo mais formidável para a renovação do pensamento”. (Scientific American Brasil-Aristóteles)

Até o século XIII, o ocidente foi marcado pelo pensamento de Agostinho, o qual colocou a fé acima de tudo, até acima do conhecimento, o teocentrismo cristão. Segundo a teologia agostiniana, a natureza humana é, por essência, corrompida, estando na fé em Deus a remissão, ou seja, a salvação eterna.

Essa visão pessimista em relação à natureza humana foi substituída por uma concepção mais otimista e empreendedora do homem, a filosofia escolástica, que preconizava que o progresso do ser humano não dependia apenas da vontade de Deus, mas do esforço do próprio homem, desse modo tentava assimilar as transformações sociais e preservar os valores da igreja e do feudalismo para assegurar a supremacia da igreja.

Com a análise minuciosa das obras de Aristóteles e inspirado na teologia cristã, Tomás de Aquino elaborou a Summa Theologica, (obra que discorre sobre vários assuntos) defende maior autonomia da razão na obtenção de respostas, apesar de não negar a importância da fé.

Em Tomás de Aquino, o foco se dá na Criação. Por toda a parte se dá a participação do todo no ato criador de Deus. Assim, não há nada que não seja Criatura (Creatura), a não ser o próprio Criador (Creator).

Todas as coisas são criaturas (Creatura), não somente a alma e o espírito, mas todas s coisas pertencentes à realidade do mundo visível.

Tomando por base a afirmação de que a idéia de que tudo o que pode ser objeto do conhecimento humano, ou é Criatura (Creatura), ou é Criador (Creator), temos que não somente o pensado pode chamar-se, em sentido estrito, de verdadeiro, mas as coisas reais são, de fato, algo pensado.

Sendo assim, poderia se falar de essência das plantas ou de essência do homem, porque (e na medida em que) Deus concebeu as coisas, por isto (e nessa medida) é que elas possuem uma essência.

Na obra Summa Theologica I, 45, 7, Tomás de Aquino afirma:
“Na medida em que ela (Criatura) possua uma forma e uma qüidade, ela reproduz (repraesentat) a Palavra, na mesma medida em que a forma da obra de arte provém do projeto do artista.”

Portanto, as coisas são reais e verdadeiras no divino e no humano, ou seja, a realidade natural está entre o intelecto divino e o intelecto humano. Tomás deixa claro o duplo conceito de verdade das coisas: o ser-pensado por Deus e a inteligibilidade para o espírito humano. Destarte, a frase “as coisas são verdadeiras” significa em primeiro lugar, que as coisas são criadoramente pensadas por Deus e, segundo, que as coisas são por si mesmas acessíveis e apreensíveis para o conhecimento humano.

Por conseguinte, a Criatura (o homem e as coisas) por ela mesma não é nada. A Criatura enquanto em modo de desvelamento do real, desvelamento do ser, está em processo de criação. Daí dizer que tem tripla existência: em Deus, em si mesmo e no pensamento (intelecto). Está, pois implícito, que há três níveis de arte na criação: o poder e a sabedoria criadora de Deus; o poder e a sabedoria criadora do Homem e o poder e a sabedoria criadora da natureza.

Sendo assim, no universo, tudo emana de Deus e tudo retorna para Deus, porque as coisas e o homem são criaturas, que remetem em sua essência ao projeto divino.

No período medieval, a criação do universo e do homem foi intensamente retratada no interior das catedrais e basílicas, desde as cúpulas e abóbadas, até os altares e paredes laterais que, juntamente com os sermões, tinham a finalidade de catequizar os fiéis, pois o analfabetismo era generalizado.

A Filosofia Tomista-Aristotélica e a Importância da Luz na Arquitetura das Catedrais Medievais- Parte I




Autora: Brigitte Luiza Guminiak Sousa – Graduada em Língua Portuguesa e Literatura, Pós-graduada em Gestão de Políticas Públicas, Pós-graduanda em Filosofia da Arte.

Resumo: este trabalho apresenta as inovações artísticas arquitetônicas introduzidas na Idade Média, com ênfase na utilização da luz e o seu significado no contexto medieval.

Palavras-chave: Idade Média – Filosofia -Arquitetura- catedrais – luz



Com a queda do Império Romano observou-se também um colapso nos valores culturais e religiosos na Europa, ocasionando a ascensão do cristianismo na região, marcando sobremaneira o início de um novo período, a Idade Medieval.

È bom salientar que a Idade Média, ou o mundo medieval, é um período histórico afeto apenas à Europa e não a toda a humanidade, vez que a população era pequena em relação aos poderosos e dinâmicos centros muçulmanos, e ficava afastada da rota do comércio que passava pelo Mediterrâneo, rumo ao Oriente.

A Idade Média sempre foi apresentada à sociedade sob uma ótica obscurantista e opressora da Igreja. No entanto, a idéia de homem e humanidade nasce na Idade Média.

Idade Média é uma invenção moderna, assim como o moderno é uma invenção medieval, aliás, a palavra modernus começou a ser usado no século XII.

Grandes inovações científicas e tecnológicas se verificaram nesse período, como a invenção da imprensa (prensa móvel) por Gutenberg, o surgimento das primeiras universidades (por volta de 1200 - a de Paris, Coimbra, Bolonha e Oxford), a invenção de grandes relógios mecânicos que transformaram a noção de tempo nas cidades. A criação dos óculos também ocorreu nesse período.

Houve também avanços nas técnicas de serralheria, fundição de ferro, utilização de moinhos d’água, a invenção das caravelas que possibilitou a expansão marítima. Popularizaram-se instrumentos como a bússola e o astrolábio, fundamentais no sistema de orientação nas grandes navegações.

A descoberta da América ocorreu nesse período, bem com a teoria heliocêntrica, de Copérnico.
Goff afirma em sua obra Reflexões sobre a história (1986) que é nesse período que se originaram elementos importantes da atualidade, como a matriz de nossas cidades, a maneira de nos relacionarmos e de constituirmos família.

Uma das principais características da Idade Média é a sua intensa religiosidade, visto que para o homem medieval o sagrado era reconhecido como encarnado no quotidiano dos homens e mulheres e o apelo da religião reunia a todos e em todas as regiões da Europa, formando a consciência de um povo único, o povo celeste. Essa capacidade de pensar e agir em conjunto deve-se ao fato de que o sentido da transcendência arrancava o indivíduo da sua condição particular e impulsionava-o a um ideal absoluto, tal como uma terra santa a ser libertada (as Cruzadas), uma igreja a ser construída ou um herege a ser queimado na fogueira (Inquisição).

É necessário observar que a Igreja imprimiu nos ideais do homem medieval os valores teológicos de uma visão de mundo que lhe era conveniente no contexto social da época: um mundo desigual e dividido em estamentos.

Assim, o clero se uniu aos senhores feudais reforçando seus privilégios e domínios e oferecendo ao povo a promessa do paraíso celeste, mas em outra vida, não na vida terrena.

A Filosofia que até então possuía traços marcadamente clássicos e helenísticos sofreu influências da cultura judaica e cristã, a partir do século V, quando pensadores cristãos perceberam a necessidade de aprofundar uma fé que estava amadurecendo, na tentativa de harmonizá-la com as exigências do pensamento filosófico da Igreja, que se consolidava na Europa. Alguns temas que antes não faziam parte do universo do pensamento grego, tais como: Providência e Revelação Divina e Criação a partir do nada passaram a fazer parte de temáticas filosóficas.

O pensamento filosófico marcante desse período, ficou conhecido como a Escolástica (ou Escolasticismo), que pode ser definido, como o conjunto de elaborações filosóficas dos doutores da Igreja , ao longo da história , notadamente na Idade Média ( do séc. IX (ao séc. XVII), que busca conciliar as verdades de fé (as verdades reveladas) com a razão humana. Dessas elaborações, a Igreja seleciona aquele conjunto de doutrinas que compõe a chamada filosofia perene; sempre sob a autoridade do Santo Padre e o Colégio Episcopal.

A Escolástica surgiu da necessidade de responder às exigências da fé, ensinada pela Igreja, considerada então como a guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. Por assim dizer, responsável pela unidade de toda a Europa, que comungava da mesma fé. Esta linha vai do começo do século IX até o fim do século XVI, ou seja, até ao fim da Idade Média. Este pensamento cristão deve o seu nome às artes ensinadas pelos escolásticos nas escolas medievais.