segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A FOTOGRAFIA SOB UM OLHAR NEÓFITO - PARTE II





Primeiramente, a fotografia é encarada como técnica, sob o ponto de vista da utilidade, e os manuais traziam o modo de uso para se fotografar. No ano de 1851, em Londres, teve lugar a primeira Exposição Universal na qual foram expostos diversos produtos industriais e máquinas.


Nela aconteceu, pela primeira vez, uma mostra internacional de fotografia, com a presença de fotógrafos londrinos, parisienses e nova-iorquinos, fato que representou, de maneira oficial, o reconhecimento público da fotografia, concretizando a existência de um movimento fotográfico na Europa e nos Estados Unidos. Esse fato, contudo, não revelou nem provocou uma uniformidade no que se refere aos processos fotográficos utilizados nem quanto à organização dos fotógrafos. Com relação aos processos fotográficos, havia uma variedade de técnicas nos países participantes da Exposição. Nos EUA, prevalecia o daguerreótipo; na França fazia-se uso dos calótipos[1] e na Inglaterra prevalecia a fotografia realizada com negativos de vidro.


Por esta época a organização do grupo de fotógrafos ainda não era nítida, pois havia somente três revistas sobre o assunto: The Daguerreion Journal (1850) e The Photographic Art Journal (1851) em Nova York e La Lumière (1851) em Paris, mas as primeiras associações foram surgindo no decorrer da década de 1850, como a Photographic Society of London (1853) e a Société Française de Photographie (1855).


Sabe-se, segundo Melo, que a Exposição Universal londrina (1851) favoreceu o campo do conhecimento, das pesquisas e as produções fotográficas no sentido de divulgar as inovações ensejando o intercâmbio na área técnica e artística, o que contribuiu para o debate em torno da fotografia, já que surgiram os primeiros resultados das pesquisas implementadas para multiplicar as provas fotográficas e diminuir o tempo de exposição no momento da tomada. (1998:21)


Como vimos, vários fatores motivaram a busca por novos materiais e processos fotográficos mais rápidos já que com o desenvolvimento industrial uma nova classe econômica - a burguesia - estava se firmando no mercado, sedenta por novidades e o lucro fácil com a mecanização dava o tom do novo ritmo econômico em ascensão. Nesse contexto encontramos uma acirrada disputa por lucro e progresso e o inicio da discussão sobre o papel artístico ou não da fotografia. Se vista como arte ou simples técnica será tema de debates e as opiniões divergem conduzindo a lados opostos: de um lado os que reconhecem a fotografia como arte e de outro, aqueles que a consideram uma mera técnica, e essa dicotomia opinativa levou à formação de dois grupos distintos, com a finalidade de garantir o mercado consumidor tanto na área artística como na difusão do trabalho técnico fotográfico.


A polêmica atravessa a sociedade e é incentivada pela imprensa divulgando a criação da Société Française de Photographie (SFP) e a Exposição Universal de Paris que defendiam a fotografia como um campo da arte, em 1855. A Société Française de Photographie foi criada para divulgar as realizações, pesquisas e discussões sobre a fotografia, reforçando sua natureza artística frente a seus opositores. Era mantida por sócios e recebia contribuições de personalidades simpatizantes à causa, além de incentivar o patrocínio das indústrias de equipamentos ligados à fotografia, nas realizações em que o exercício fotográfico se desenvolvia em busca de uma linguagem artística própria.


Por outro lado, o outro grupo que vislumbrava a fotografia no campo técnico fundou a revista La Lumière, dirigida por Ernest Lacan, focaliza os interesses econômicos dos fotógrafos, a venda de suas obras (a fotografia), ou seja, a especulação privada, classificando as afirmativas da SFP como “simples clube de discussões”.


Torna-se importante notar que a posição da Société Française de Photographie é ambivalente visto que organiza uma exposição fotográfica, simultaneamente à Exposição Universal de Londres, e cria um concurso, em 1856, com fins comerciais, trazendo à fotografia o status de Arte e dinamiza a divulgação como tal, ao mesmo tempo em que vincula em seu espaço de atuação a técnica e a indústria, uma vez que nela se apóia para se firmar no mercado.


[1] Processo patenteado em 1841 por William Henry Fox Talbot pelo qual se utilizavam negativos sobre papel.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A FOTOGRAFIA SOB UM OLHAR NEÓFITO - PARTE -I - HISTÓRICO

Por: Brigitte Luiza Guminiak


São Paulo- German Lorca


Pensarmos sobre arte e tecnologia juntos pode, a princípio, parecer uma proposta estranha, mas, como ambas retratam o desenvolvimento humano no decorrer da história, acreditamos que possibilite traçar um paralelo em seus caminhos e talvez nos revele ainda mais sua aproximação.

Sob a ótica da arte, a fotografia vem travando ao longo de seu percurso o dilema de ser ou não arte, dada às técnicas empregadas para se reproduzir as imagens captadas no mundo real, e tratarmos aqui de pesquisar, ao menos em parte, este tema.

A arte, em sua história, mostra-nos que sempre lançou mão de múltiplos recursos para sua execução, indo em busca tanto de suportes variados,quanto técnicas que assimilariam conhecimentos que vão desde a mumificação no Egito, construções de monumentos, castelos, fabricação de tintas e pincéis, litografia, xilogravura, off-set, etc. até, evidentemente, evoluir e atualizar seus métodos sempre encontrando na infindável criatividade humana novas e diferentes propostas. Não é o propósito neste instante relembrarmos passo a passo o caminho percorrido pela arte, e seria redundância pontuar que sempre esteve presente na vida do homem.

A interessantíssima história da fotografia acompanhou o contexto histórico da Revolução Industrial do Século XIX, encabeçada pela França e Inglaterra. Cronologicamente, temos que em 1827, na França, a descoberta da heliogravura[1] por Nicephore Niepce e em 1839 o processo positivo em papel, de Hypolyte Bayard e, também em 1839, encontramos Louis Jacques Mandé Daguérre inventou a Daguerreotipia[2], e na Inglaterra, de 1835, William Henry Fox Talbot apresentou a Calotipia[3].

No Brasil, em 1832, na cidade de Campinas, São Paulo, Hercules Florence, criou a palavra FOTOGRAFIA para designar uma de suas descobertas, a gravação de imagens pela ação da luz, processo baseado no princípio da reprodutibilidade, como conhecemos hoje (negativo/positivo), cinco anos antes de John Herschel, a quem a história atribuiu a criação do vocábulo. Esse fato ficou oculto por 140 anos, somente sendo conhecido e reconhecido internacionalmente quando da publicação da obra “1833: a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil” – Editora Duas Cidades, 1980, por Boris Kossoy. Dada a simultaneidade na descoberta tecnológica, torna-se difícil a identificação de um só inventor, de tal tecnologia, podendo-se, no entanto, afirmar que ela teve seus alicerces nesses inventores.

A discussão em torno da fotografia se acirrou na Europa, na década de 1830, haja vista a enfática declaração do pintor Paul Delaroche: “de hoje em diante, a pintura está morta” (Demanchy & Puyo, 1906, p.52). Essa afirmação demonstra o grande impacto que a invenção da fotografia causou no mundo das artes plásticas, mais precisamente, na pintura, que até então inclui a arte de retratar entre suas tarefas. Nos círculos mais conservadores da sociedade francesa e nos meios religiosos “a invenção foi chamada de blasfêmia, e Daguérre era condecorado com o título de ‘idiota dos idiotas’ (Damanchy e Puyo, 1906, p.32)”.

[1] Heliogravura: Designação genérica dos processos de obtenção de imagem, por via fotomecânica (processo de impressão no qual o clichê tipográfico é obtido pela fotografia), de formas de impressão gravadas em oco, bem como dos processos de impressão que utilizam essas formas.

[2] Daguerreotipia: trata-se do processo. fotográfico criado por Daguerre, e que consistia em fixar numa película de prata pura, aplicada ao cobre, a imagem obtida na câmara escura.

[3] Calotipitia: (ou talbotipia) produzia imagens em negativo, a qual podia depois ser reproduzida ad aeternum em positivo.