quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

NA RELIGIÃO DA ARTE QUAL A DIFERENÇA ENTRE O ARTESÃO E O ARTISTA?





Renoir- Paisagens -Wargemont









Por: Brigitte Luiza Guminiak


Na Idade Média a Igreja utilizou-se da Arte com a finalidade de sacralizar e divinizar o mundo, com a intenção de aproximar o divino à criatura e fazendo crer de se tratar de algo imanente do HUMANO. A dimensão religiosa das artes deu aos objetos artísticos ou às obras de arte uma qualidade de transcendência, chamada por Walter Benjamim de “AURA”, sendo ela uma absoluta singularidade do SER, portanto, IRREPETÍVEL. A obra de arte possuída por uma AURA torna distante o que está perto, porque vai além da realidade, dando-lhe a qualidade da transcendência.


Assim, a origem religiosa transmitida às obras de arte deu-lhe uma qualidade transcendente mesmo quando se distanciaram da religião e se tornaram autônomas.


O artista se faz na transcendência, e com criatividade, em totalidade com o SER. A criatividade aliada à fantasia e à inspiração apreende a intimidade subjetiva do artista, desaguando na execução da obra. Um desaguar de singularidade, que em um segundo momento criativo não se repete. O artista vive dentro de si o assunto ou a obra. Um está contido no outro. Não há como repetir o sentimento, as angústia, as alegrias daquele momento único e inefável, o momento da criação.


O artista não imita a Natureza, antes, liberta-se dela, pois cria uma realidade humana e espiritual, por meio da criatividade, e assim ele se aproxima do Criador.


O sentido novo da obra de arte é expresso pelo artista e a institui como parte da cultura, pois sendo um ser social reflete sobre a sociedade, voltando-se para ela, seja para criticá-la, afirmá-la ou superá-la.


Verifica-se então que o artesão difere do artista, pois aquele concebe à arte um caráter imediatista e mimético visto não extrapolar o pensamento de si, separando o interior do exterior, numa visão do “eu” separado da arte, e inconscientemente, questiona esse fato, vez que, para ele a obra é mera “thécne” , sem poiesis, simples imitação da Natureza, logo, desprovida de transcendência, já que domina a “thécne” destituída da “poiesis”, da transcendência, da aura singular que reveste o momento criativo.


A “thécne” do artesão pode se constituir num “perigo supremo”, segundo Heidegger, haja vista propiciar o ocultamento do SER, levando a que o homem não encontre a sua face na obra, a sua essência, mas apenas o desvelamento da “thécne”. Esse perigo pode ser evitado se se unir “thécne” e “poiesis”.


O que caracteriza a obra de arte e a diferencia de uma produção artesã é a capacidade de fazer aparecer a verdade e não unicamente uma imitação da natureza, visto que o artista revela por meio da obra de arte aquilo que o mundo tem de primordial.


O artista se vale do material para revelar a verdade já contida no material, para o artesão, esse processo não ocorre, pelo fato do imanente não se encontrar com o transcendente, a thécne não se une à poiesis, o pro-duzir se materializa no mundo exterior, sem envolvimento do mundo interior, de forma prática e desmistificada. Para o artesão não há o SOFRER, O VIVER a obra, somente o FAZER.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- MELO, Marcelino Peixoto. Tópicos em Artes Plásticas: Leituras e Releituras da Obra de Arte. UFMG, 2003.

2- PRATES, Eufrásio. Passeio Relâmpago pelas Idéias Estéticas do Ocidente.
Disponível em
http://www.geocities.com/Eureka/8979/estetica.htm

3- SERRA, Paulo. O Designe na era da Informação. Universidade de Beira Interior.
Disponível em
http://bocc.ubi.pt/pag/serra-paulo-design-era-informacao.pdf

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