AS CATEDRAIS E A IMPORTÂNCIA DA LUZ NA ARTE MEDIEVAL
A arte medieval tem o seu foco no religioso, fundamentado na Criação e no Cristianismo. Foi financiada, na maioria das vezes pela Igreja.
A arte medieval tem o seu foco no religioso, fundamentado na Criação e no Cristianismo. Foi financiada, na maioria das vezes pela Igreja.
O pensamento medieval é arquitetônico, vez que construir é produzir, gerar espaços e lugares que propiciem um patamar e uma circunstância que una a terra ao céu, o Homem ao Divino, formando unidade. Habitar a construção é guardar o divino e resguardar o Homem.
Para o medieval, a arquitetura é a produção do espaço propício que conduz o Homem à sua fonte criadora, à origem e o guarda para que a plenitude da obra se consuma.
As igrejas constituíram a mais eloqüente manifestação da arquitetura medieval. Dois grandes estilos arquitetônicos foram consagrados: o românico e o gótico.
A arquitetura românica teve seu apogeu no Século XI, aparecendo os mosteiros, castelos e igrejas. Refletia o mundo feudal teocêntrico: o castelo representava a segurança terrena (o feudo) e a catedral (fortaleza de Deus), a segurança espiritual, ou seja, enfatizava-se ao mesmo tempo o poderio da nobreza e da igreja.
A catedral românica é maciça, pesada, de linhas simples. Seu interior é sombrio, criando uma atmosfera de segurança e tranqüilidade, propícia à submissão e à devoção.
A catedral gótica, banhada de luz e cor, decorada com pinturas e esculturas, significava mais do que um templo para o homem medieval: era sua escola, sua biblioteca, sua galeria de arte, o ponto de encontro do homem com o divino. Era a casa do povo, o próprio coração da cidade.
A arquitetura da catedral gótica é pensada para a inclusão de todos, a universalidade, compreensão total do universo, completo, o que abarca tudo e isso culmina no céu, a abóbada. O homem medieval vê a vida vinda do alto, o que providencia a conexão com a luz divina. Millet em Luz Revelando Arquitetura considera que o “céu providencia a conexão com a luz divina [...] até mesmo antes de qualquer valor religioso ter sido atribuído ao Céu, ele revela a sua transcendência. O céu simboliza transcendência, poder e o simples desafio de existir. Ele existe porque é alto, infinito, imóvel, poderoso”.
Um elemento importante na arquitetura das catedrais góticas é a luz, usada para ligar os aspectos espirituais da vida às forças divinas. Esse aspecto sagrado está relacionado à experiência das conexões cósmicas, por exemplo, o aspecto sagrado da mudança temporal expressa em locais especiais como as catedrais e basílicas. Lugares que oferecem conforto, silêncio, introspecção em contraste com as condições exteriores.
A luz revela a edificação, suas intenções, seus espaços, suas formas e seus significados. Luz revela a arquitetura e, no melhor dos casos, arquitetura revela a luz.
A catedral gótica, como imagem do mundo, no contexto medieval, representa nitidamente dois mundos: o de fora, onde a história da salvação é vivenciada, e o de dentro, onde tudo é espaço, descanso, paz, grandiosidade, pura luz que vem do alto.
Nas igrejas católicas medievais, a cosmologia levou a um sistema de símbolos diferentes, na qual a luz do dia e a luz das velas revelam a representação da posse de Deus.
A interação entre a luz divina e a luz terrena ocorre dentro das catedrais para que todos possam ver e experimentar.
Ruskin descreveu o templo medieval como sendo “em toda parte um tipo da igreja invisível de Deus”.
No interior das catedrais góticas o homem recebe uma impressão religiosa de qualquer tipo, é tocado pela majestade das imagens dos apóstolos e de Deus que os envia e olha para baixo. A luz nas catedrais góticas medievais é divina, cintilante, brilhante, pura, parece ser a luz do paraíso.
Para os Séculos XII e XIII, as catedrais foram a fonte e a essência de toda beleza visual. Para o pensador medieval a beleza não era um valor independente dos outros, mas a radiação da verdade, o esplendor da perfeição de Deus, e da qualidade das coisas que refletem sua origem no Criador.
Durante o mesmo período em que foi construída a catedral de São Marco, a luz divina também se revelou na Catedral de Notre Dame (1194 -1120) na França, através dos vitrais manchados das janelas. A luz do dia era transformada ao traspassar os vitrais coloridos, tornando–se, para devotos medievais, a própria luz divina, pois todo o interior é inundado pela luz colorida. Todos aqueles que adentrarem na catedral podem se banhar nesta luz divina.
Dessa maneira o sagrado, nas catedrais medievais, é expresso pelo tamanho da construção, pela qualidade da luz e pelas imagens.
A luz pode nos levar além do finito, do tempo e do espaço que conhecemos como mortais, no instante em que somos movidos a imaginar sobre o universo e refletir sobre o nosso papel dentro desse contexto. Um pequeno feixe de luz pode nos encorajar a assumir a missão a nós reservada pelo Criador.
Nossas vidas estão intimamente ligadas à luz. Nós literalmente não podemos viver sem ela. É uma das forças básicas e imutáveis da natureza, gera e anima a vida na terra. O sol, fonte de luz e calor, sustenta a vida vegetal, proporcionando, portanto, alimento para a vida animal, inclusive o homem. No período medieval as luzes das estrelas e da lua definiam a noite – partes de algo maior do qual nós somos uma minúscula parte. Os mistérios eram abertos para os assombramentos e mitos carregavam suas mensagens. Ao anoitecer, a luz era rara, e a noite era coberta de mistério.
A Luz tem claramente a capacidade de modificar a matéria. Se ela pode mudar a matéria física de nossos corpos, então por que não também nossos pensamentos e sentimentos? E a arquitetura gótica depende da luz. Como a luz revela as formas arquitetônicas e os espaços produzidos por ela, ela simultaneamente revela o significado e as intenções que são liberadas através do processo de concepção, projeto e construção. Estes significados são tanto particulares como universais.
A linguagem natural da luz e da escuridão é uma poderosa unidade com a qual se expressa significado na arquitetura. Luz, na revelação da arquitetura, simultaneamente revela o significado no edifício, sendo este sublime ou banal.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- Revista Scientific American Brasil – Gênios das Ciências – Aristóteles- Nº. 10
2 – VICENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo, Scipione, ed.9. 2002.
3 - ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela N.; FADEL, Tatiana. Português, Língua e Literatura. São Paulo: Moderna, 1.ed., v.único.2000.
4 - PIEPER, Josef. Luz Inabarcável – o elemento negativo na Filosofia de Tomás de Aquino. Disponível em http://www.hottopos.com/convenit/jp1.htm
5 – MILLET, Marieta S. Luz Revelando Arquitetura. Disponível em:
http://www.arq.ufsc.br/labcon/arq5656/livro/menu.htm
Um comentário:
excelente pesquisa!Parabens!!
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