Na história do Brasil e em todas as questões de poder e de relações sociais nela envolvidas, verdades percorrem séculos e são aceitas sem que se discuta sua veracidade, incorporando-se à nossa realidade sem sabermos por que razão estão lá. O preconceito é uma dessas verdades, que distorcem a realidade e nos fazem vê-la somente por um ângulo de uma determinada instituição ou classe social ou cultura.
Um aspecto a ser repensado é o preconceito que o brasileiro tem em relação à língua portuguesa.
Segundo o inciso IV, art. 3º, dos Princípios Fundamentais da Constituição Federal, o objetivo fundamental da República Federativa do Brasil é:
[...]
“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação.”
As palavras finais grifadas abrangem toda sorte de discriminação, no entanto, vemos sua penetração através da linguagem e na educação, configurando-se a língua padrão no maior exemplo dessa discriminação, embora sua missão seja nivelar os grupos sociais, tornou-se um instrumento a mais para aumentar as desigualdades. Aqueles que não passam por esse crivo são altamente discriminados perante a sociedade.
A luta contra o preconceito lingüístico daqueles que não aceitam as inovações lingüísticas é muito difícil.
Os lingüistas formam dois extremos perigosos: de um lado temos os conservadores, que associam a língua culta à linguagem literária (o “gramatiquês”) e, de outro, os liberais que aceitam tudo, sem preocupar-se com os conceitos de certo ou errado, ou melhor dizendo, adequado ou não adequado.
Realmente é difícil aceitar algo que vá contra o que um dia aprendemos como certo, assim como é difícil, atualmente, aceitar algo sem a devida explicação.
Assim, estamos em eterno dilema, pois encontramos a nossa cultura dividida. De um lado, temos a norma-padrão, o ideal, e, do outro, as variedades lingüísticas do português, que são realizações concretas da nossa língua materna. Muitas vezes nos sentimos constrangidos ao falar corretamente e as pessoas acharem que estamos falando errado.
Então, como democratizar esse nosso ambiente lingüístico? Como poderíamos acabar com a ideologia dos antigos gramáticos que está tão enraizada em nossas mentes?
A conscientização de que o certo e o errado são muito relativos dentro da língua e de que é sua adequação que denota o saber falar/escrever corretamente valida todos os usos possíveis da língua, abrindo novas perspectivas de luta pela democratização efetiva do uso da língua e a sua importância na formação da consciência de Nação-Estado.
A nossa Língua Português precisa apenas de dedicação e do trabalho dos seus herdeiros, ou seja, de todos nós, para disseminar uma cultura de valorização de nossa língua e suas variedades, independente de região geográfica e classe social.
O preconceito lingüístico não está presente na língua em si, mas nos usuários da língua, pois se utilizam dela para dominar, estigmatizar as variedades lingüísticas como uma sublínguagem.
A língua é uma extensão de nós mesmos, pois é com ela que passamos ao outro o nosso modo de ser e de ver o mundo e os nossos sentimentos.
Um comentário:
Brigitte!
que grande prazer encontrar o seu blog quando procurei notícias a respeito do Fica (o festival!)...
em primeiro lugar, parabéns por tanta sensibilidade e beleza aqui no seu espaço,
seus versos & idéias são cativantes!
gostaria muito de manter contato.
se quiser,
mas só se quiser,
me faça uma visita!
grande abraço,
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