domingo, 30 de agosto de 2009

O OLHAR FOTOGRÁFICO

Por : Brigitte Luiza Guminiak

O contexto gerado pela Revolução Industrial deu à vida um novo rumo. Além dos objetos industrializados, houve uma aceleração na produção, proporcionando a geração de novas necessidades e conceitos o que afetou também o mundo da Arte, no nosso caso, a fotografia, já que a modernização industrial apresentou equipamentos mais precisos e sofisticados.



Ressalta-se que o fotógrafo ao utilizar as novas técnicas e ao aderir às tecnologias inovadoras, isso não implica necessariamente em fazer uma arte nova. Ao contrário, pode perder a ânsia da busca de algo que represente as suas inquietações, seus prazeres e a consciência do público.


Essas inquietações e prazeres, segundo Simões & Galimberti (2000) estão impregnados no olhar do fotógrafo que investiga o proibido, vasculha o temido, não de fiscalizar, mas sim para oferecer uma oportunidade ao objeto fotografado para revelar-se e porque não dizer, rebelar-se.


O produto fotográfico é a imagem gerada para o espectador com suas evidências e sombras, fazendo o objeto renascer e adquirir vida nova, vida de imagem que alimenta o imaginário daquele que observa a fotografia.
Guarda-Chuvas - de German Lorca


Recorrendo a Wunenburger (2007), vemos que a fotografia, sendo imagem, é em si um texto a ser lido, interpretado, decifrado, comentado, discutido. Um texto provocativo e interativo com o espectador, servindo como reflexão texto provocativo e que interage com o espectador servindo como reflexço objeto renascer e adquirir vida nova, vida de imagem sobre o mundo e o estar no mundo, pois impregna de profundidade e sentido desde o momento em que se sabe que a imagem transcende os limites predeterminados da máquina fotográfica, já que as imagens nutrem o pensamento, e assim nos afastam do imediato, do real, abrindo a porta ao possível e aos sonhos, permitindo acesso a uma felicidade inédita, um regozijo dos sentidos, já que a imagem ativa o imaginário.



Tal proposição é reforçada em Joly (2006) quando afirma:

“[...] a imagem existe porque houve contigüidade física, é a própria emanação de um passado real. É uma verdadeira magia. É por isso que, com a ajuda da semelhança, confundiremos a fotografia com próprio ser, ou com uma parte do próprio ser e podemos tratá-la de maneira fetichista, como muitas vezes se faz com as fotos de namorados ou de pessoas desaparecidas. (p.129)”


A assertiva de Joly de que a fotografia emana de um passado real, reforça o signo da morte na fotografia que, segundo a autora, no mesmo instante em que se tira a fotografia, o objeto ou a pessoa desaparecem, se esse real existiu, é porque não existe mais, e a fotografia torna-se tão logo o próprio signo de que somos mortais e tudo é efêmero.


Ainda segundo Joly, a imagem tem sido muito manipulada e desprestigiada como meio de percepção, embora seja a percepção que dá importância ao olhar, já que é a forma de acesso ao outro, ao mundo e a mim mesmo, sendo que ao aprender a ver uma imagem, ao mesmo tempo ela encobre algo e também revela, como por exemplo, na expressão “o que você está olhando? Está vendo algo que eu não vejo?”.



Sim, quem admira uma fotografia, vê algo que outros não vêem e que somente o fotógrafo soube revelar, cabendo ao espectador interpretar por meio da percepção.

Uma consideração marcante a ser levantada é que a imagem, segundo Joly, é uma linguagem e, portanto, uma ferramenta de expressão e de comunicação, constitui uma mensagem para o outro, mesmo quando esse outro somos nós mesmos.



Para Joly, uma das precauções necessárias para compreender da melhor forma possível uma mensagem visual, no caso a fotografia, é buscar para quem foi produzida, ou seja, buscar o referente. Já que a fotografia carrega uma mensagem é justo compreender seu conteúdo e os critérios de referência, haja vista que a imagem fotográfica comunica uma relação entre o homem e o mundo, por exemplo, a foto de uma reportagem, ela revela algo sobre certa realidade, mas revela sobremaneira a personalidade, as escolhas, a sensibilidade do fotógrafo que a assina. Daí que fotografar é olhar, escolher, aprender. A fotografia não é a reprodução de uma experiência visual, apenas, mas a reconstrução de um paradigma (Joly:2006).



Cabe aqui observar o pensamento de Chauí (1985:31) quando lança especulações filosóficas em torno do olhar, afirmando serem os olhos as janelas da alma, ligados ao campo semântico da luz, da claridade, e por associação, o olhar que tornar visível o invisível.



Analisando com atenção as afirmações acima, vale destacar que a percepção do fotógrafo faz uma interseção entre o sujeito, a temporalidade e a existência num mundo mutável como o nosso.



Neste sentido, o olhar fotográfico exercita o pensar-sentir, observando tudo, pensando o sentimento e a subjetividade do mundo exterior, a refiguração do mundo. Com base nas assertivas acima descritas, nos suscita um questionamento que não quer calar: qual é o encanto da fotografia?



Buscando resposta à indagação, Joly talvez coloque luz quando distingue três fases diferentes na prática fotográfica: o “fazer”, que se refere ao operador; o “olhar”, que se refere ao espectador; o “sofrer”, que se refere ao espectrum (a imagem).



O “fazer” do ato fotográfico constitui o resultado do encontro entre o fotógrafo e o fotografado num momento único e instantâneo, sendo que a imagem está automaticamente terminada no próprio momento do “click”, esse momento decisivo (Joly, 2006: 126-127).

O olhar do fotografo que percebe o inusitado ao apreciar a imagem carregada de sensibilidade que transbordou a objetiva, penetra na intimidade do fotografado, como um instante único, um instante que se revela em imagem imortalizada.


Esse caráter único entre o fotógrafo e o objeto fotografado confere à fotografia a categoria de mimese perfeita, já que foge do convencional e dá um aspecto de aprisionamento, ou seja, foi “pego” ad eternum, mas que a imagem revela. E essa revelação nos diz qual a verdade que de fato esperamos ver na fotografia, ou seja, uma prova de existência do objeto/pessoa fotografada.

Para efeito desta reflexão, vale aqui um recorte para destacar a importância da percepção do fotógrafo ao olhar certas paisagens que se cruzam com a vida das pessoas: a cidade, a natureza, as próprias pessoas retratadas numa fotografia.

Sendo o olhar um dos sentidos mais atuantes, é por meio do olhar, portanto, que se inicia uma representação mítica inegável, por ser o portal entre o interior subjetivo e o exterior objetivo, haja vista que sempre esteve presente na vida do homem, principalmente a partir da invenção da fotografia. Desta maneira, é o olhar do fotógrafo imprescindível para se relacionar com o mundo real, e mais ainda, com o mundo virtual, uma vez que é fonte inesgotável de imagens provocadoras de desejos e aparências fugazes, como a própria vida é fugaz e efêmera. Desta feita, a fotografia aproxima o espectador do mundo já que com a imagem fotográfica cria um espaço onde cabe a interrogação provocativa do outro, imprescindível na relação que se estabelece entre o fotógrafo, o espectador e um terceiro, aquele que olhará mais tarde as fotografias.




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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela N. e FADEL, Tatiana. Português-Língua e Literatura. Coleção base. V. único. 1. Ed. São Paulo: Moderna, 2000.

COSTA, HELOUISE. A Fotografia Moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1995.

JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Trad. Marina Appenzeller, Campinas, 10. ed. São Paulo: Papirus, 2006.

MELO, Maria Teresa Bandeira de. Arte e Fotografia: o movimento pictorialista no Brasil. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1998.

SANTANELLA, L. e NÖTH, W. Imagem –codificação, semiótica , mídia. São Paulo: Iluminuras, 2008.

FLÜSSER, Vilém. O mundo codificado. TRad. Raquel Abi Sâmara. São Paulo: Cosac Nify, 2007.

WUNENBURGER Jean-Jaques. O Imaginário. Trad. Maria Stela Gonçalves. s.ed.,São Paulo: Loyola, 2007.


MIDIA ELETRÔNICA


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CHAUÍ,Marilena.Convite à Filosofia. Disponível em
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LEITE, Enio. A História da Fotografia. Disponível em
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RIBEIRO, Suzana Barreto. Manual de Photographia: caminhos da técnica e da arte ou a profissionalização possível? Disponível em
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SERRANO, Daniel Portillo. Percepção. Disponível em
http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/Percepcao.htm acessado em 18/010/2007.

SIMÕES, Gilmar&GALIMBERTI, Alessandra. O Olhar Fotográfico. Disponível em
http://gilmarsimoes.webcindario.com/portugues/olhar_fotografico.htm acessado em 26/07/2008.


3 comentários:

Márcio Ramos disse...

Gostei muito do texto, da bibliografia, das imagens. Cheguei aqui porque estou lendo - A fotografia entre documento e a arte contemporanea de Andre Rouile ed Senac - uns livros e procurando as imagens na net.

Valeu.

Ever disse...

plis volta (para postar)!!!!

Carla S disse...

Ótimo post! Também sou uma apaixonada pela fotografia. Queria muito fazer um curso de fotografia, mas não tinha muito tempo, aproveitei as férias para fazer um. Procurei um curso online e me indicaram este http://www.aprendum.com.br/pacote-de-cursos-online-para-fotografos/ Fiz e gostei bastante. Fica como dica.