quinta-feira, 13 de setembro de 2007

CÉSIO 137 - PARTE I

O ACIDENTE


O acidente radiológico com o CÉSIO 137 ocorrido há 20 anos na cidade de Goiânia, em 13 de setembro de 1987, é considerado o segundo maior acidente do mundo, fora das usinas nucleares.
Nesse dia, dois catadores de lixo, buscavam por material reaproveitável nas dependências de uma clínica radiológica abandonada











Rua 57,Setor Aeroporto, onde ocorreu o acidente

(Instituto Goiano de Radioterapia) que se localizava numa das ruas que circundavam o antigo Hospital Santa Casa de Misericórdia, o qual havia sido demolido para futuras instalações do atual Centro de Convenções de Goiânia, no centro da cidade de Goiânia.


Os catadores de lixo encontraram um aparelho de radioterapia e removeram a máquina com a ajuda de um carrinho de mão. Venderam o equipamento a um ferro velho nas imediações (Rua 16-A do Setor Aeroporto). O dono do ferro velho quebrou com marretadas o aparelho para retirar as partes de ferro ou chumbo. Encontraram um “pó branco” - uma substância química que no escuro emitia uma luz azul brilhante. No dia seguinte, vendeu o aparelho a outro ferro velho, na Rua 57, Setor Aeroporto, sem saber que já estava se contaminando com os resquícios do “pó branco”. O dono do primeiro ferro velho ficou maravilhado com o “pó branco” e convida amigos, vizinhos e parentes para compartilhar o “achado” e distribui algumas minúsculas pedrinhas como presente, inclusive para sua filha de 4 anos que se “pinta” com o “pó”. Assim a contaminação se alastrou rapidamente.

O “pó branco” encontrado dentro do aparelho, parecido com sal de cozinha, o CÉSIO 137 (CsCL) ou cloreto de césio-137, é encontrado dentro dos aparelhos para exames de Raio X.


A contaminação radiológica em grau elevado, de imediato, provoca vômitos, náuseas, diarréia, tonturas, queimaduras e amputações.


Os primeiros sintomas foram sentidos alguns dias após a abertura do equipamento, mas foram confundidos com sintomas de outras doenças contagiosas. Somente quinze dias após a abertura do equipamento, certificou-se tratar de sintomas de uma Síndrome Aguda de Radiação
Ionizante, ou seja, CONTAMINAÇÃO RADIOATIVA.


As cinco vítimas mais graves, o dono do ferro velho (Devair), a filha do dono do ferro velho, de 4 anos (Leide das Neves), a tia da menina ( Maria Gabriela) e dois empregados do ferro velho, foram encaminhados para tratamento no Rio de Janeiro, pois Goiânia não dispunha, ainda, de tratamento especializado em contaminação radioativa. Cerca de quarenta dias após o acidente quatro vítimas vieram a óbito, a








Centro de Convenções de Goiânia, local onde foi abandonado o aparelho de Raio X








menina, a tia e os dois empregados. O dono do ferro velho faleceu em 2003. A sobrevivência por tanto tempo de uma pessoa exposta a altas doses de radiação é um caso único no mundo, em toda a literatura médica especializada.

A descontaminação do local e da vizinhança causou danos irreparáveis aos moradores, que além de terem sido contaminados, viram suas casas, roupas, brinquedos, utensílios domésticos, virarem toneladas de lixo atômico e até a terra dos terrenos, onde se localizavam as residências, foi removida e transformada em lixo.

Foram atingidas 46 residências, 45 logradouros públicos, 50 veículos. Para o encapsulamento dos rejeitos, as 6 mil toneladas de rejeitos, em 3500 metros cúbicos, vários tipos de recipientes foram utilizados, num total de 4215 tambores de 200 litros, 10 contêineres de navio, com 32 metros cúbicos , 8 VBA’s, recipientes de concreto para um tambor de 200litros, além de 1357 caixas metálicas fabricadas especialmente para atender às condições do acidente de Goiânia. Tudo foi lacrado e encaminhado a um depósito construído especialmente para esse fim, no município de Abadia de Goiás, distante 26 Km de Goiânia, onde deverão permanecer por um prazo aproximado de 180 anos.


Segundo Dr. José Ferreira da Silva, superintendente da Superintendência Leide das Neves (SULEIDE), órgão estadual que acompanha as pessoas contaminadas, foram monitoradas por aparelhos 112,8 mil pessoas em 1987, pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e cerca de 249 sofreram a contaminação maior e são assistidos diretamente pela SULEIDE. Estes foram divididos em dois grupos.















Área onde se encontram os rejeitos do acidente com o Césio 137


em Abadia de Goiás

No Grupo I, estão os diretamente contaminados em número de 56 (51 vivos) e seus filhos em número de 34 (33 vivos) e no Grupo II, estão os indiretamente contaminados em número de 46 (44 vivos) e seus filhos em número de 28 (todos vivos).

Os filhos dos dois grupos nasceram sem nenhuma seqüela ou mutação genética e recebem toda a assistência médica, psicológica e visitas de assistentes sociais.


Foram incorporadas cerca de 400 pessoas, aquelas que trabalharam diretamente no transporte dos rejeitos e faziam a segurança dos locais contaminados.


Apesar do caos instalado naqueles fatídicos dias de setembro de 1987, que trouxeram medo, incertezas e repercussões econômicas sérias ao Estado de Goiás, a economia se recuperou totalmente e o estigma da radiação foi superado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Poeta e jornalista eis Brigitte, que surge do brilho do Sol escaldante da bela Goiânia.
Estou me achando!!!! Por conhecer alguém que sabe,vive e tem certeza do que escreve, marcando em cada palavra sua personalidade.Cleo