domingo, 23 de setembro de 2007

CÉSIO 137 - PARTE II




Vítima do césio 137
Foto: reproduçao/ TvGlobo





AS SEQUELAS


As seqüelas deixadas pelo segundo maior acidente radiológico do mundo foram apresentadas de imediato, nas pessoas diretamente contaminadas, ou seja, as 4 vítimas fatais do acidente.


Depois de vinte anos, a cidade de Goiânia ainda contabiliza as conseqüências, no que diz respeito à assistência à cerca de 700 pessoas oficialmente monitoradas pela SULEIDE (Superintendência Leide das Neves).



Segundo a Superintendência, as seqüelas biológicas, como mutações genéticas, que esse tipo de acidente pode causar, até o presente momento, não foram detectadas, e não se pode afirmar a existência de nexo causal com a radiação disseminada pelo acidente.
Um alto nível de radiação pode apresentar alterações biológicas como cardiopatias, dermatoses, perda de dentes, problemas ginecológicos e diversas patologias oncológicas e a perda de membro. Não existem estudos comprobatórios de síndromes desenvolvidas sob o impacto de baixa radiação.



Segundo o Dr. José Ferreira Silva, especialista em medicina das radiações em Hiroxima, superintendente da SULEIDE, não existe doença específica do Césio 137. Os estudos apresentados na literatura médica são referentes a altas doses de radiação.



As principais patologias desenvolvidas sob altas doses de radiação, e que apresentam um nexo causal direto, é o câncer radio induzido (de sangue e de tireóide), ou seja, leucemia e o carcinoma tireóideo.



As vítimas do acidente são monitoradas constantemente pela Superintendência, com assistência nas diversas áreas médicas: clínico geral, cirurgião pediátrico, cardiologista, que atendem na própria Superintendência, além de acompanhamento psicológico e de assistentes sociais. As consultas ginecológicas, dermatológicas e odontológicas são prestadas no Hospital Geral de Goiânia.



O maior impacto sofrido pelas vítimas, é o psico-social, devido à discriminação da sociedade, nos dias imediatamente subseqüentes ao acidente, e é até hoje uma chaga aberta na vida das mesmas. Aliás, todos os moradores de Goiânia, foram de alguma maneira discriminados nos meses que se seguiram ao acidente, como negativa de estadia em hotéis, contratos de venda e aluguel de imóveis aos acidentados indiretos rescindidos, sem falar nas conseqüências econômicas que o Estado de Goiás teve que enfrentar para superar a tragédia.



O Estado de Goiás vem cumprindo seu papel assistencial às vítimas, dentro das possibilidades médicas que o Estado oferece, mas as pesquisas continuam, e vale lembrar que a população contaminada começa a envelhecer, cujo processo apresenta uma incidência maior de doenças e se essas doenças são em decorrência da radiação, não se pode afirmar.



Uma questão que depois de 20 anos ainda atormenta a população goianiense: o nível de radiação em Goiânia é maior que em outro ponto do país?



Sabe-se que a radioatividade natural no ar nas vizinhanças de uma mina de urânio ou no interior das residências varia consideravelmente com o tempo, o local e as condições climáticas (atmosféricas) e um levantamento feito por físicos especializados indicou que o grau de radiação em Goiânia é menor que a encontrada nas areias monazíticas de Guarapari (ES).





A sede regional da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), localizada em Abadia de Goiás, mantém o acondicionamento dos rejeitos sob total vigilância e manutenção e a vistoria é feita de três em três meses, não havendo risco de vazamentos, pois as condições de armazenamento seguem padrões internacionais e foram projetados para acondicionamento por 300 anos.



Fato é que essa triste realidade faz parte da história de Goiânia, e deve servir de alerta a gerações futuras quanto ao uso de equipamentos radiativos sem o devido cuidado.



Goiânia, após 20 anos do segundo maior acidente radiológico ocorrido no mundo, fora das usinas nucleares, superou o estigma de cidade contaminada pela radiação, e recuperou os índices de crescimento econômico da cidade.



quinta-feira, 13 de setembro de 2007

CÉSIO 137 - PARTE I

O ACIDENTE


O acidente radiológico com o CÉSIO 137 ocorrido há 20 anos na cidade de Goiânia, em 13 de setembro de 1987, é considerado o segundo maior acidente do mundo, fora das usinas nucleares.
Nesse dia, dois catadores de lixo, buscavam por material reaproveitável nas dependências de uma clínica radiológica abandonada











Rua 57,Setor Aeroporto, onde ocorreu o acidente

(Instituto Goiano de Radioterapia) que se localizava numa das ruas que circundavam o antigo Hospital Santa Casa de Misericórdia, o qual havia sido demolido para futuras instalações do atual Centro de Convenções de Goiânia, no centro da cidade de Goiânia.


Os catadores de lixo encontraram um aparelho de radioterapia e removeram a máquina com a ajuda de um carrinho de mão. Venderam o equipamento a um ferro velho nas imediações (Rua 16-A do Setor Aeroporto). O dono do ferro velho quebrou com marretadas o aparelho para retirar as partes de ferro ou chumbo. Encontraram um “pó branco” - uma substância química que no escuro emitia uma luz azul brilhante. No dia seguinte, vendeu o aparelho a outro ferro velho, na Rua 57, Setor Aeroporto, sem saber que já estava se contaminando com os resquícios do “pó branco”. O dono do primeiro ferro velho ficou maravilhado com o “pó branco” e convida amigos, vizinhos e parentes para compartilhar o “achado” e distribui algumas minúsculas pedrinhas como presente, inclusive para sua filha de 4 anos que se “pinta” com o “pó”. Assim a contaminação se alastrou rapidamente.

O “pó branco” encontrado dentro do aparelho, parecido com sal de cozinha, o CÉSIO 137 (CsCL) ou cloreto de césio-137, é encontrado dentro dos aparelhos para exames de Raio X.


A contaminação radiológica em grau elevado, de imediato, provoca vômitos, náuseas, diarréia, tonturas, queimaduras e amputações.


Os primeiros sintomas foram sentidos alguns dias após a abertura do equipamento, mas foram confundidos com sintomas de outras doenças contagiosas. Somente quinze dias após a abertura do equipamento, certificou-se tratar de sintomas de uma Síndrome Aguda de Radiação
Ionizante, ou seja, CONTAMINAÇÃO RADIOATIVA.


As cinco vítimas mais graves, o dono do ferro velho (Devair), a filha do dono do ferro velho, de 4 anos (Leide das Neves), a tia da menina ( Maria Gabriela) e dois empregados do ferro velho, foram encaminhados para tratamento no Rio de Janeiro, pois Goiânia não dispunha, ainda, de tratamento especializado em contaminação radioativa. Cerca de quarenta dias após o acidente quatro vítimas vieram a óbito, a








Centro de Convenções de Goiânia, local onde foi abandonado o aparelho de Raio X








menina, a tia e os dois empregados. O dono do ferro velho faleceu em 2003. A sobrevivência por tanto tempo de uma pessoa exposta a altas doses de radiação é um caso único no mundo, em toda a literatura médica especializada.

A descontaminação do local e da vizinhança causou danos irreparáveis aos moradores, que além de terem sido contaminados, viram suas casas, roupas, brinquedos, utensílios domésticos, virarem toneladas de lixo atômico e até a terra dos terrenos, onde se localizavam as residências, foi removida e transformada em lixo.

Foram atingidas 46 residências, 45 logradouros públicos, 50 veículos. Para o encapsulamento dos rejeitos, as 6 mil toneladas de rejeitos, em 3500 metros cúbicos, vários tipos de recipientes foram utilizados, num total de 4215 tambores de 200 litros, 10 contêineres de navio, com 32 metros cúbicos , 8 VBA’s, recipientes de concreto para um tambor de 200litros, além de 1357 caixas metálicas fabricadas especialmente para atender às condições do acidente de Goiânia. Tudo foi lacrado e encaminhado a um depósito construído especialmente para esse fim, no município de Abadia de Goiás, distante 26 Km de Goiânia, onde deverão permanecer por um prazo aproximado de 180 anos.


Segundo Dr. José Ferreira da Silva, superintendente da Superintendência Leide das Neves (SULEIDE), órgão estadual que acompanha as pessoas contaminadas, foram monitoradas por aparelhos 112,8 mil pessoas em 1987, pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e cerca de 249 sofreram a contaminação maior e são assistidos diretamente pela SULEIDE. Estes foram divididos em dois grupos.















Área onde se encontram os rejeitos do acidente com o Césio 137


em Abadia de Goiás

No Grupo I, estão os diretamente contaminados em número de 56 (51 vivos) e seus filhos em número de 34 (33 vivos) e no Grupo II, estão os indiretamente contaminados em número de 46 (44 vivos) e seus filhos em número de 28 (todos vivos).

Os filhos dos dois grupos nasceram sem nenhuma seqüela ou mutação genética e recebem toda a assistência médica, psicológica e visitas de assistentes sociais.


Foram incorporadas cerca de 400 pessoas, aquelas que trabalharam diretamente no transporte dos rejeitos e faziam a segurança dos locais contaminados.


Apesar do caos instalado naqueles fatídicos dias de setembro de 1987, que trouxeram medo, incertezas e repercussões econômicas sérias ao Estado de Goiás, a economia se recuperou totalmente e o estigma da radiação foi superado.