“A fotografia moderna no Brasil surgiu e se desenvolveu no Foto Cine Clube Bandeirante. Os fotógrafos bandeirantes concretizaram uma transformação que abalou a tradição pictorialista e acadêmica do movimento amador.”
Os pioneiros modernos, José Yalenti, Thomaz Farkas, Geraldo de Barros e German Lorca, provocaram uma profunda renovação na prática fotográfica, culminando no puro radicalismo moderno, atuando no espaço aberto e abandonando processos pictoriais. As mudanças se fizeram notar na temática, sob uma nova abordagem, mais sensível às apreciações da beleza do cotidiano, livrando-se assim das tradicionais paisagens e naturezas-mortas. Essa mudança possibilitou a construção de uma nova sensibilidade já que se retomou a experimentação no ato fotográfico.
José Yalenti, um dos sócios do Foto Cine Clube Bandeirante, iniciou sua prática fotográfica no período pictorialista, e concentrou sua experimentação na exploração da luz, levando-o a abandonar gradativamente os preceitos clássicos de iluminação, passando a fotografar na contraluz e incorporou a geometria nos motivos, dando ênfase a jogos de linha e planos, privilegiando o elemento arquitetônico, inaugurando assim a fotografia arquitetônica.
O trabalho do pioneiro Thomaz Farkas se caracterizou pelas pesquisas em várias direções, enfatizando ritmos, planos e texturas e recorrendo também à contraluz. Seu pioneirismo ficou evidente, já que, como relata Costa,
“Problematizou o movimento na fotografia, principalmente através de expressões de dança e, além disso, participou do Grupo Surrealista que pretendia usar a fotografia como um “meio de divulgação psicológica”. Foi, no entanto, na utilização de ângulos inusitados que o artista atingiu a maturidade de sua visão moderna, realizando um trabalho de grande personalidade”.
Figura 1-Thomas Farkas-Surrealistas
Farkas também inovou, contrariando o enquadramento frontal e introduzindo ângulos tortuosos e insólitos. No início da década de 50, Farkas passou a dedicar-se ao cinema amador.
As inovações e pesquisas dos pioneiros acima citados não interferiram no processo fotográfico propriamente dito, qual seja, fotografar, revelar ampliar, o que constituiu o foco das pesquisas de Geraldo de Barros.
“Fez fotos de cenas montadas e fotografou objetos, enfatizando o ritmo de seus elementos constitutivos. Foi, porém, através de uma pesquisa abstracionista que a sensibilidade do artista encontrou campo fértil e pôde se expandir, diluindo as fronteiras que convencionalmente separam a fotografia das artes plásticas [...]. Geraldo de Barros transgredia a realidade da cena fotografada através de inúmeras intervenções. Múltiplas exposições de uma mesma chapa, recortes, superposições e desenhos executados diretamente sobre o negativo, montagens fotográficas, cortes nas cópias já prontas, enfim, procedimentos que denotavam sua vontade de criar uma ordem autônoma para a fotografia”. (COSTA, 1995:43).
Quando Geraldo de Barros ingressou no Foto Cine Clube Bandeirante, 1949, foi convidado a montar o laboratório fotográfico do Museu de Arte de São Paulo (MASP) e para isso contou com a ajuda de German Lorca e Thomaz Farkas, oportunizando acesso a um espaço fora do clube para realizar as experiências abstracionistas na fotografia.
Em um dos seminários do Clube, Geraldo de Barros, assim se manifestou a respeito da arte fotográfica: “Todo artista deve ser completamente livre, tendo compromisso apenas consigo mesmo” (COSTA, 1995:44).
Demonstrou, portanto, sua tendência de fugir ao lugar-comum das propostas fotoclubistas. Sua veia artística violou destarte o processo fotográfico o que determinou a desconsideração de suas experiências como fotografia, o que o levou a abandonar a fotografia, a partir de 1950, e ingressar na vertente concretista das artes plásticas.
Figura - Geraldo de Barros-Função Diagonal -1952
As inovações e experiências introduzidas por Geraldo de Barros proporcionaram o surgimento de uma nova sensibilidade e que marcou o trabalho de Lorca, já que esse “novo olhar” sobre cenas corriqueiras lança a fotografia no mundo surrealista, haja vista que “Através da fotografia o surrealismo abandona o terreno ideal da pintura e adquire novos contornos, materializando-se surpreendentemente no nosso cotidiano” (COSTA, 1995:46). German Lorca deixou o Foto Cine Clube Bandeirante nos primórdios da década de 50 e profissionalizou-se como fotógrafo publicitário.
O espírito inovador desses pioneiros do movimento moderno na fotografia brasileira destravou o caráter documental da prática fotográfica, embora seja um registro do real, esse real, codificado em imagem, desvela um poderoso meio de análise da natureza, como se verá em outro tópico.