domingo, 22 de junho de 2008

QUE PERSPECTIVA A FENOMENOLOGIA DA ARTE PROPORCIONA?

Arannha da Noite - Salvador Dali

Por : Brigitte Luiza Guminiak


Devemos tomar a Filosofia não como uma explicação do mundo, do Ser e sim como interrogação interminável das coisas no sentido de revitalização da percepção, não só da percepção em si, mas, sobretudo do Homem, de maneira que devemos reaprender a ver o mundo e nos voltarmos às coisas mesmas, na sua simplicidade, na sua essência.


Ao reaprendermos a ver o mundo direcionamos o sujeito a transcender a vida cotidiana de forma a reencontrar a “inocência perdida”, ir além ou aquém de toda a separação do sujeito e objeto, do eu e o outro em si mesmo.

Ao ver o mundo de outra forma, desvelamos uma percepção oculta, uma experiência secreta cuja reativação possibilitaria voltar-se às coisas mesmas, ao simples, ao “inocente” que é intrínseco do ser.

A Filosofia e a arte juntas, não são produções estanques, mas tangem o Ser justamente no momento da criação. E a criação nada mais é que a realidade dada e a essência secreta que fundamenta o momento em que o Ser vem a ser. E para que o visível venha à visibilidade, exorta o pintor a pintar, para que a linguagem venha à expressão, pede o trabalho do escritor/poeta, para que o Ser do pensamento venha à inteligibilidade, requer o trabalho do pensador.

Todo o desvelamento desses trabalhos tange a intenção de exprimir alguma coisa para a qual não possuem modelo que garanta o acesso ao Ser, já que é a ação criadora que abre o caminho que dá acesso à experiência do contato do visível com o invisível.

Esse instante fenomenológico em que o invisível permite o trabalho de criação do visível; o indizível, o do dizível; o impensável, o pensável, para surgir o jamais visto, jamais dito, jamais pensado, faz nascer a obra.

Essa perspectiva de reaprender a ver o mundo, reaprender a ver a obra de arte, só a Fenomenologia da Arte proporciona, haja vista o sujeito e o objeto serem indivisíveis, como o são o corpo e a alma, o mundo e a consciência, a percepção e o pensamento. Antes de tudo se entrecruzam em dimensões simultâneas.